O aumento da área em que é recomendada a imunização contra a febre amarela e a colocação da doença no calendário de vacinação são discutidos por especialistas do setor.
"Essas mudanças vão depender da dinâmica do surto atual. Se acabar rápido, sem uma maior disseminação entre humanos e macacos, não será necessário alterar a abordagem em relação à doença. Por outro lado, se a epidemia crescer, pode ser necessário ter todo o estado [de São Paulo] com a recomendação de vacinação e colocar a febre amarela no calendário nacional [de imunização]", opina Luiz Fernando Aranha, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
Atualmente, a Secretaria Estadual de Saúde recomenda a vacinação para apenas parte dos municípios paulistas e a febre amarela não consta no calendário nacional de imunização. Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) determinou, na última terça-feira(16), que todo o estado de São Paulo seja considerado como área de risco para o contágio da febre amarela.
Pesquisadora da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), Danielle Sanches defende a decisão da OMS.
"É uma atitude de prevenção, para que as pessoas busquem a vacinação. Mas não é motivo para pânico, não significa que as pessoas tenham que dormir nos postos de saúde", diz ela.
Já Aranha ressalta que o movimento da OMS visa alertar principalmente os estrangeiros que queiram visitar São Paulo. "É difícil especificar pra que cidade vai cada turista que passa pelo estado, então é melhor considerar o território inteiro para que todos se vacinem", explica ele.
Na opinião dos especialistas, a abordagem do setor público tem sido positiva. Contudo, foram feitas algumas ressalvas. "O governo está atendendo a demanda pela vacinação nas áreas urbanas, mas é importante que o esforço maior aconteça nas regiões de mata, onde o risco de contágio é superior", afirma Danielle.
Ela também defende que as campanhas de vacinação durem o ano todo, e não apenas nos períodos de surto da doença. "Dessa forma, evitaríamos o caos que estamos vendo agora, com filas gigantes em postos de saúde", comenta a entrevistada.
Apesar de considerar o quadro atual preocupante, Aranha diz que o avanço da "vacinação em massa" deve conter a epidemia nos próximos meses. "Se o trabalho de imunização continuar, essa crise não vai durar muito."
Sanches também considera a situação preocupante. Para ela, é importante que sejam contratados agentes de saúde para ampliar a vacinação em cidades afastadas, onde o risco de contaminação é maior.
Avanço da doença
Desde janeiro do ano passado foram registradas 36 mortes por febre amarela só no estado de São Paulo, segundo o último balanço da Secretaria Estadual da Saúde, divulgado na última sexta-feira.
O número é 71,4% maior do que o registrado no relatório da semana anterior, que mencionava 21 óbitos decorrentes da doença desde o início de 2017.
Ainda de acordo com a pasta, o número de casos de febre amarela também aumentou, passando de 40 para 81 na última semana.
Com o avanço da doença, o governo de São Paulo decidiu antecipar a campanha emergencial de vacinação para o dia 25 deste mês. Antes, o início do mutirão estava programado apenas para o dia 3 do próximo mês.
Fonte: https://www.dci.com.br/dci-sp/surto-de-febre-amarela-pode-gerar-mudan%C3%A7a-de-calend%C3%A1rio-1.678195